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Quando morreu em 2016, vítima de um câncer, a atriz e cantora cubana Phedra D. Córdoba não era necessariamente uma figura conhecida nacionalmente. Radicada no Brasil desde a década de 1950, quando participou de uma série de Revistas do empresário carioca Walter Pinto, Córdoba se sagrou definitivamente uma atriz na virada do século, quando encontrou no grupo Os Satyros o veículo para mostrar sua versatilidade e talento dramático.
Desde então, Phedra se tornou uma espécie de madrinha da companhia de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, e musa da praça Franklin Roosevelt, no centro da cidade, onde fica localizada uma concentração de teatros e sedes de companhias teatrais – Os Satyros entre elas. Com sua trajetória previamente contada no documentário Cuba Libre, a artista chegou a aparecer em programas de televisão, dar entrevistas para grandes veículos e fazer espetáculo revisionista que chegou até sua terra natal, Cuba.
Ponto para a direção elegante e detalhista de Tellategui e Catalunha, que constroem bonito quadro cênico entre a dupla de atores e amenizam a monotonia que costuma pairar em encenações construídas como documentários cênicos. Os diretores extraem de Dailyn, atriz de personalidade também forte, um fervor latino pautado pela emoção.
Delicada também é a belíssima luz criada por Diego Ribeiro e Rodolfo García Vázquez, que sublinham o tom intimista proposto pela encenação, que se passa no pequeno e aconchegante apartamento da diva cubana.
Se os depoimentos em vídeo cansam – a despeito de também divertir -, o texto de Arcanjo constrói bonito diálogo entre ficção e realidade, numa primeira incursão dramatúrgica que resulta despretensiosa – e mora aí a grande beleza do espetáculo, que, assim como sua homenageada, não se pretende nada além do que foi pensado para fazer, cumprindo expectativas e desempenhando importante papel de resgaste da memória teatral paulistana, tendo ainda, como uma espécie de plus, a inteligência de divertir o público.