Entrevista Amanda Acosta – Carmen, A Grande Pequena Notável

Entrevista Amanda Acosta – Carmen, A Grande Pequena Notável

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Musical, que conta a trajetória de Carmen Miranda com linguagem do Teatro de Revista, faz temporada no CCBB RJ de 4 de fevereiro à 28 de março

Há pouco mais de 90 anos Carmen Miranda (1909-1955) cantava pela primeira vez na rádio carioca Roquete Pinto. Portuguesa radicada no Brasil, a cantora estava prestes a se tornar um dos maiores símbolos da cultura brasileira para todo o mundo. Em comemoração a essa data, Carmen, a Grande Pequena Notável, com direção de Kleber Montanheiro, estreia dia 04 de fevereiro no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB RJ). O espetáculo fica em cartaz até 28 de março, com apresentações quintas e sextas às 18h e sábados e domingos às 16h. O projeto tem patrocínio do Banco do Brasil.

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O musical é inspirado no livro homônimo de Heloisa Seixas e Julia Romeu, que venceu o Prêmio FNLIJ de Melhor Livro de Não Ficção em 2015. Quem dá vida à diva é a atriz Amanda Acosta.

Para contar essa história, o espetáculo adota a estrutura, a estética e as convenções do Teatro de Revista Brasileiro, no qual Carmen Miranda também se destacou. “Utilizamos a divisão em quadros, o reconhecimento imediato de tipos brasileiros e a musicalidade presente, colaborando diretamente com o texto falado, não como um apêndice musical, mas sim como dramaturgia cantada”, explica o diretor Kleber Montanheiro.

Esse tradicional gênero popular faz parte da identidade cultural brasileira, mas recentemente está em processo de desaparecimento da cena teatral por falta de conhecimento, preconceito artístico e valorização de formas americanizadas e/ou industrializadas de musicais.

A encenação tem a proposta de preservar a memória sobre a pequena notável, como a cantora era conhecida, e a época em que ela fez sucesso tanto no Brasil como nos Estados Unidos, entre os anos de 1930 e 1950. Por isso, os figurinos da protagonista são inspirados nos desenhos originais das roupas usadas por Carmen Miranda; já as vestes dos demais personagens são baseadas na moda dessas décadas.

“As interpretações dos atores obedecerão a prosódia de uma época, influenciada diretamente pelo modo de falar ‘aportuguesado’, o maneirismo de cantar proveniente do rádio, onde as emissões vocais traduzem um período e uma identidade específica”, revela Montanheiro.

A cenografia reproduz os principais ambientes propostos pelo livro. Esses espaços físicos são o porto do Rio de Janeiro, onde Carmen desembarca criança com seus pais; sua casa e as ruas da Cidade Maravilhosa; a loja de chapéus, onde Carmen trabalhou; o estúdio de rádio; os estúdios de Hollywood e as telas de cinema; e o céu, onde ela foi cantar em 5 de agosto de 1955. Cada cenário traz ao fundo uma palavra composta com as letras do nome da cantora em formatos grandes. Por exemplo, a palavra MAR aparece no porto, e MÃE, na casa dos pais da cantora.

O musical conta a história da cantora Carmen Miranda, de sua chegada ao Brasil ainda criança, passando pelas rádios, suas primeiras gravações em disco, pelo cinema brasileiro e o Cassino da Urca, ao estrelato nos filmes de Hollywood. Inspirado no livro homônimo infanto-juvenil de Heloisa Seixas e Julia Romeu, o espetáculo conta e canta para toda a família os 46 anos de vida dessa pequena notável que levou a música e a cultura brasileira para os quatro cantos do mundo.

Siga o Instagram Oficial do Espetáculo: @musicaldacarmen

foto Leekyung Kim
Dia em que fomos assistir ao espetáculo

Depois de saber um pouco sobre este lindo espetáculo, acompanhe nossa entrevista com Amanda Acosta.

Eunoteatro – Amanda, como foi o processo de criação para interpretar essa personagem tão emblemática, com sotaque “aportuguesado”, com aquelas falas rápidas e aquela expressão corporal tão mercante?

Amanda Acosta – Muito estudo! Li, ouvi, assisti tudo o que eu pude e continuo lendo, ouvindo e assistindo Carmen. O corpo dela está em ação o tempo todo; voz, olhos, braços mãos, quadril, cabeça. Mergulhei em detalhes das mãos, olhos, passos, braços, voz aguda e grave que são características marcantes dela, que trazem ela. Fui descobrindo a naturalidade desses movimentos no meu corpo, com muita pesquisa e estudo. Buscando sempre a emoção, a energia, a alma desses movimentos, se não acabam virando apenas movimentos desconectados. Busco a alegria contagiante de Carmen em mim para assim acessar a alma da plateia.

Eunoteatro – O que você e Carmen têm em comum? O que você já tinha e o que precisou buscar para criar a sua Carmen?

Amanda Acosta – Carmen desperta o melhor em mim. Aprendo muito com ela. Evoluo como artista e como ser humano com ela e dando vida a ela. Temos em comum o amor e o comprometimento com o nosso ofício, em dar o melhor para as pessoas no palco e na vida. O que eu tinha era a facilidade e o prazer em brincar com a voz, com as melodias, com o timbre, cantando coisas rápidas também. Precisei buscar a Carmen, pois a Carmen não pensava em ser Carmen ela era a Carmen. Eu tenho que pensar pra ser Carmen estudando todo o seu ser, trazendo para o meu corpo o que não é comum a ele, mas que passa a ser. As pessoas tem que sentir e ver a Carmen em cena não a Amanda Acosta.

Eunoteatro – Passamos por uma invasão de espetáculos “americanizados”, o que na minha visão, não é algo negativo, mas ao mesmo tempo, sinto falta de mais espetáculos como Carmen, no formato de Teatro de Revista. Você acha que o Brasil deveria investir em mais produções desse tipo? Temos espaço para isso?

Amanda Acosta – Com toda a certeza! O Teatro de Revista traz uma comunicação com o público única. Tem todos os ingredientes na Revista: a crítica, a beleza, a dança, a música, o canto, o lírico, o popular, as questões sociais, políticas, a sensualidade, a bagacerice… somos todos representados na revista. O Teatro perdeu na história, não houve uma evolução do gênero. Pouquíssimas revistas foram feitas desde o seu declínio na década de 60. Acredito que a Neyde Veneziano, grande estudiosa do Teatro de Revista, grande diretora, é uma das raras diretoras que produziu e produz teatro de revista. E o Kleber Montanheiro também, o diretor de “Carmen a Grande Pequena Notável”. Precisamos investir em novos  dramaturgos e em espaços onde possam desenvolver novas revistas ampliando este espaço para muitos outros talentos atuarem e resgatar este gênero que conversa diretamente com a alma brasileira. Precisa haver a valorização da nossa história cultural tão rica! No caso estamos falando apenas da revista. Precisa haver investimento em produções nacionais originais e investimento nas produções que já estão aí e que não conseguem se manter em cartaz. E sim, precisamos ter produções, espetáculos que tenham algo a dizer, sejam estrangeiros ou brasileiros. Só não podemos priorizar espetáculos de fora enquanto falta para as produções brasileiras.

Eunoteatro – Agora uma pergunta que no entender de uma apaixonada por teatro não poderia ficar de fora. Sendo você essa atriz tão atuante no mercado teatral, qual foi o impacto da quarentena para o teatro e o que podemos esperar para o futuro? Talvez possa parecer uma pergunta corriqueira, mas vocês, artistas, técnicos, operários de Dionísio, são o norte dessa nossa arte, por isso gostaria muito de saber sua visão sobre tudo o que temos passado.

Amanda Acosta – O teatro é feito de carne e osso. Não foi possível fazer teatro nesta pandemia, mas foi possível manter ele vivo, com leituras de textos e espetáculos online. Sempre passamos por reconfigurações, de tempos em tempos; um exemplo são os atores e todos os profissionais que trabalhavam nas rádios novelas que tiveram que se reinventar com o surgimento da TV e das telenovelas. E assim seguimos. Mas o teatro é insubstituível. Podemos abrir novas possibilidades para somar e fortalecer o teatro, mas nada consegue reproduzir a alquimia energética que o teatro proporciona entre os seres humanos através de uma história. No teatro respiramos juntos. O teatro sobreviverá sempre. Mas ele não existe sem o público.

Eunoteatro – Amanda Acosta, agradecemos pela disponibilidade em nos ceder esta entrevista e desejamos uma ótima temporada.

Siga Amanda Acosta no Instagram: @amandaacosta

Crítica de Gilberto Bartholo

Gilberto Bartholo

Considero “CARMEN – A GRANDE PEQUENA NOTÁVEL” um dos melhores musicais infantojuvenis a que já assisti em toda a minha vida, por todo o conjunto de acertos que ele contém, a começar pelo texto. A transposição de uma obra literária para o palco não é tarefa das mais fáceis, o que não me parece ter ocorrido aqui, embora eu, ainda, não tenha lido o livro, mas pretendo fazê-lo, uma vez que o trabalho foi realizado por suas próprias autoras. Por outro lado, por ser um musical biográfico, poderia cair na chatice do didatismo narrativo, entretanto HELOÍSA e JÚLIA tiveram a devida competência para usar uma linguagem que atingisse as crianças, os jovens e os mais velhos, abusando de tiradas engraçadas, utilizando um humor leve e descontraído. É, portanto um texto ágil, com diálogos bem construídos. Além disso, a estrutura dramatúrgica é apresentada em quadros, aparentemente independentes, mas que se coadunam, formando um todo, indivisível.

Achei ótima a estética empregada pelo diretor, KLÉBER MONTANHEIRO, que optou por uma estrutura que muito se assemelha à do velho e bom Teatro de Revista, grande “coqueluche” (Entreguei a idade. KKK), na época de CARMEN. Segundo o diretor, “Utilizamos a divisão em quadros, o reconhecimento imediato de tipos brasileiros e a musicalidade presente, colaborando, diretamente, com o texto falado, não como um apêndice musical, mas sim como dramaturgia cantada.”. Isso é muito bom, para os mais antigos, os quais fazem uma viagem ao passado (Havia muitos idosos na plateia.) e também para proporcionar, aos mais jovens, papais, crianças e jovens, a oportunidade de conhecer um modo de se fazer TEATRO, que marcou uma época e duas ou três gerações, porém foi deixado de lado, até mesmo, marginalizado.

Siga Gilberto Bartholo no Instagram: @gilbertobartholo

SERVIÇO
Carmen – A Grande Pequena Notável
Centro Cultural Banco do Brasil RJ
R. Primeiro de Março, 66 – Centro – TEATRO I
Temporada: 4 de fevereiro à 28 de março, quintas e sextas às 18h e sábados e domingos às 16h.
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada) 
Classificação: livre. Recomendado para crianças a partir de 5 anos
Duração: 70 minutos
Capacidade: 75 lugares
Informações: (21) 3808-2020
Venda online: https://www.eventim.com.br/artist/carmen-a-grande-pequena-notavel-musical/

FICHA TÉCNICA
Carmen, a grande pequena notável
Patrocínio: Banco do brasil
Realização: Centro Cultural Banco do Brasil
Dramaturgia: Heloisa Seixas e Julia Romeu
Direção: Kleber Montanheiro
Diretora Assistente: Larissa Matheus
Elenco: Amanda Acosta – Carmen Miranda, Daniela Cury – mãe / freira / corista, Guh Rezende – pai / freira / Mário Cunha / empresário americano, Fernanda Gabriela – Aurora Miranda / secretária do cassino / corista, Júlia Sanches – madame boss / madre maria José / Isaura / corista, Samuel de Assis – criança / Josué de barros / dono do cassino
Musicos: Betinho Sodré, Mauricio Maas, Monique Salustiano e Fernando Patau
Direção de produção e administração: Maurício Inafre
Idealização do projeto: Kleber Montanheiro
Assessoria de imprensa: mercadocom / ribamar filho


 

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