Entrevista Célia Forte

Entrevista Célia Forte

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Nossa entrevistada de hoje, como costumo dizer, é uma das maiores guardiãs de boa parte da história do nosso teatro. Nascida na cidade de São Paulo, formada em Jornalismo e Relações Públicas pela Faculdade Cásper Líbero. Tendo em 1985, se associado a Selma Morente e, juntas, fundaram a empresa Morente Forte Comunicações onde atuam juntas até hoje.

Como assessora de imprensa e produtora, exclusivamente na área teatral, produziu os nomes mais expressivos do cenário artístico nacional e premiadas peças teatrais. Sua trajetória e experiência profissional fizeram com que em 2004 escrevesse o seu primeiro texto teatral, supervisionado por Paulo Autran, “Amigas, pero no mucho”. Sucesso absoluto de público e crítica, estreou em São Paulo, no Teatro Renaissance em 2007. Em 2011 encena seu segundo texto Ciranda,. Este último é a consagração da autora, sucesso absoluto de público e uma unanimidade pela crítica especializada, Ciranda figura entre os melhores espetáculos do ano encenado em São Paulo, quatro estrelas na revista Veja São Paulo, e considerado excelente por um dos maiores críticos da atualidade, Jefferson Del Rios. Nesse ano, foi indicado entre os dez melhores no Guia da Folha e no Divirta-se do Jornal da Tarde. Entre encenados e inéditos, hoje, já possui dez textos em seu currículo: Ciranda (Traduzido para o Espanhol como RONDA), Alternativa, Por um segundo, Benditas Mulheres, Tua Presença, Nem Tudo é Tango, Não é bem assim, Não por nada, A Torta, o musical Fórmula do Amor e Amigas, pero no mucho, encenado em Angola, inclusive. A dramaturga vasculha o universo feminino, transformando em profundas e divertidas tramas, fazendo a plateia rir das próprias mazelas ou das mazelas de algumas mulheres que conhece.

😉Vamos a entrevista?

✔Aprecie sem moderação!

Célia Forte | Foto: Denise Andrade

Eunoteatro- Célia, em “Benditas Mulheres” vemos uma história que revela curiosidades, amores e dissabores que envolvem a convivência de três atrizes e uma camareira de uma peça a ser encenada. Nesse enredo, você expõe um comportamento estrutural típico das classes mais abastadas. Tendo cerca de 36 anos de experiência no universo teatral, fico imaginando que você deva ter presenciado situações no mínimo inusitadas. Por que escolheu esse tema?

Célia Forte- Sempre me interessei pelos profissionais que, de fato, fazem nossa vida ficar mais confortável, que para muitas pessoas, são “invisíveis”. Com tanto tempo de trajetória, já vi e vivi situações inusitadas e medonhas em vários setores da sociedade. Tanto teatral como social. Vi e vivi muitas histórias lindas também. A vida é feita dessas discrepâncias e quase nada podemos fazer, a não ser tentar dar nosso melhor. Para nós e para os outros.

Eunoteatro- Seus textos abordam frequentemente o universo feminino. Até mesmo quando escolheu um elenco masculino em “Amigas, Pero No Mucho”, (primeiro texto de Célia que está em cartaz há 13 anos) essa foi a temática, que também se faz presente em “Ciranda”, onde você aborda assuntos do cotidiano de uma relação entre mãe e filha…

Além do fato de ser mulher, o que te faz ter tanto fascínio sobre o nosso universo?

Célia Forte- Amigas, pero no mucho escrevi para quatro atrizes. O Marcelo Médici que deu a ideia de fazer uma leitura com homens. Mudei o final e montamos com atores, o que fez da peça um sucesso, por que com homens, houve o distanciamento e as situações “dramáticas”, ficaram engraçadas, justamente por causa desse distanciamento. Enfim, o universo feminino me interessa por que tem mais nuances. Amamos e odiamos com a mesma intensidade em questões de segundos. O fascínio vem das histórias que mulheres são capazes de criar, as trajetórias que percorrem.

Eunoteatro- O espetáculo “Benditas Mulheres”, mexe com nossas emoções e ao mesmo tempo que nos faz sorrir, também nos convida através de um vasto conjunto de cenas, a profundas reflexões sobre a vida. Qual a importância da discussão das relações humanas nos dias de hoje?

Célia Forte- Sua definição sobre a peça foi ótima. Precisamos nos arriscar a entender o outro. Vivemos tempos difíceis. Na procura pela própria identidade, por vezes, a encontramos ao lidarmos com pessoas diferentes de nós. Em todas as instâncias. Acredito que só há evolução quando há empatia. Precisamos nos colocar no lugar do outro para praticar a tolerância e a generosidade.

Elenco de Benditas Mulheres: Carol Rainatto, Vera Mancini, Claudia Missura e Maria Pinna | Foto Divulgação

Eunoteatro- Por se tratar de uma história que mostra as alegrias, dilemas e conflitos por trás da montagem de um espetáculo teatral, acredita que o público de alguma forma, começará a enxergar os artistas com um olhar mais humano, com um olhar mais “gente como a gente”?

Célia Forte- Não foi essa minha intenção. Pode acontecer, claro. Falo dos bastidores do teatro para mostrar a convivência saudável entre seres humanos com diferentes anseios, que poderia ser em qualquer ambiente de trabalho. O público é plural e vê uma peça sobre várias vertentes. O que tenho constatado, no caso de Benditas Mulheres, é que o público gosta das mudanças de algumas personagens ao longo da história, justamente quando começam a olhar para o outro, no caso, a outra. A metalinguagem sempre me atraiu. E foi isso que pretendi contar nas histórias dessas quatro mulheres.

Eunoteatro- Costumeiramente, perguntamos aos atores, sobre o prazer em atuar. Agora, faço essa pergunta a você: como dramaturga, qual seu maior prazer em escrever para o teatro?

Célia Forte- Saber que uma cidadã ou um cidadão sai de casa para assistir uma história que imaginei e criei somente na presença do computador é um prazer absoluto. Ver essas personagens tocarem outras pessoas, de alguma maneira é extremamente gratificante. Eu fico no fundo da plateia esperando as pessoas passarem por mim. Agradeço cada uma, internamente, por ter me dado a honra da sua presença. Claro que há a troca. Teatro é troca.

Eunoteatro- Na direção temos Elias Andreato, uma parceria de muitos anos e trabalhos. Por que o Elias? E como se deu a contribuição dele para o espetáculo?

Célia Forte- Sim, nossa parceria é de longa data. Mas, minha admiração por ele, ainda se deu antes de conhece-lo. Elias tem mãos certeiras na direção, além do grande ator que é. Benditas Mulheres não é uma comédia por si só. E o Elias entendeu isso desde a primeira leitura. As plateias riem muito, mais do que eu imaginava e também se emocionam. Ele escreveu uma letra linda, emocionante, que Jonatan Harold musicou e que Célia Jordani interpreta logo no início da peça. Fala sobre teatro e sua gente. “No escuro da coxia espio a vida bendita e a poesia que fica escreve o que eu digo”… Elias é pura poesia. E termina com uma música interpretada por Adriana Sanchez que diz que “tudo é teatro”. A vida é teatro. Elias é o próprio TEATRO!

Elenco de Benditas Mulheres: Carol Rainatto, Vera Mancini, Claudia Missura e Maria Pinna| Foto Divulgação

Eunoteatro- Nos papéis das personagens “atrizes”, temos as competentíssimas Carol Rainatto e Maria Pinna. Interpretando a personagem da “diretora”, a maravilhosa Vera Mancini e, no papel da “camareira”, a interpretação genial de Claudia Missura. Como se deu a escolha desse elenco tão diversificado, mas que ao mesmo tempo, dá tanta liga em cena? Você já tinha esses nomes em mente desde o início?

Célia Forte- Eu escrevi a personagem Otila, camareira, pensando em Claudia Missura. Não só pela genialidade da atriz que é, como também pelo dom de “fazer graça” com tanta naturalidade e docura que emociona. Uma felicidade quando aceitou nosso convite. Vera Mancini era um sonho de consumo antigo. Sempre pensamos, Selma Morente e eu, em poder contar com ela em alguma de nossas produções e foi justamente num texto meu. Imagina minha alegria. Carol Rainato e Maria Pinna conheci através do Elias. Carol foi sua aluna, além de atriz, uma excelente e promissora dramaturga. Maria interpretou incrivelmente um texto do Elias, HELP, com direção do próprio. Ele indicou e imediatamente, liguei convidando as duas. Uma combinação perfeita. Adoro assistir essas quatro mulheres em cena.

Eunoteatro- Célia, você e as meninas da “Morente Forte”, são uma inspiração para nós, pois a história de vocês, se mistura com a alma do Teatro. Acredito que já tenha visto uma quantidade incontável de peças, mas eu preciso te fazer essa pergunta (rs)… Você saberia dizer, mais ou menos, quantas peças já assistiu e/ou produziu e fez assessoria? Poderia citar uma que tenha sido transformadora em sua vida?

Célia Forte- Obrigada, Cíntia. Nossa, são muitas histórias assistidas, produzidas, assessoradas. Eu e Selma atravessamos 4 décadas dedicadas e agraciadas pelo TEATRO e por uma equipe absolutamente maravilhosa. Teria sido impossível sem a equipe que formamos. Trabalhamos e convivemos com Paulo Autran, que fomentou essa paixão pelas artes cênicas, durante 19 anos. É muita coisa para uma vida só, né? Todas as peças me transformam um pouco, mesmo as que não gosto, por que sempre querem dizer – e dizem – alguma coisa para alguém e a minha, seria apenas mais uma opinião. O teatro é muito maior que a opinião isolada de alguém. Sim, tenho meu “top five”. Quem não tem? Mas, não conto. 😉

Eunoteatro- Célia, estamos muito felizes e orgulhosos por tê-la com a gente no @eunoteatro. Agradecemos por dispor de seu tempo para essa entrevista. Seja muito bem-vinda e até a próxima! ❤️ Super Beijos!

Célia Forte- Eu também adorei estar aqui com vocês!

Siga Célia Forte no Instagram: @celiaforte)

Siga Morente Forte no Instagram: @morenteforte

Entrevista por: Cíntia Duque @eunoteatro

Texto de abertura: adaptação do texto da assessoria de imprensa.

Serviço:
Teatro Renaissance
Alameda Santos, 2233
(440 lugares)
Sexta e sábado às 21h30
Vendas:
https://bileto.sympla.com.br/event/69194
Recomendação: 12 anos
Duração: 80 minutos

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