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A premiada companhia do Teatro da Vertigem, conhecida por fazer peças em lugares incomuns, como igrejas, presídios e até no Rio Tietê, fez uma nova peça onde utiliza do universo dos rodeios para discutir o agronegócio e o conservadorismo que tomou conta do Brasil.
“Agropeça”, que ficou em cartaz no Sesc Pompeia, utiliza personagens bem conhecidos da literatura brasileira para falar sobre o assunto. Emília, Narizinho, Pedrinho, Tia Nastácia, Dona Benta, Visconde de Sabugosa, Saci e Marquês de Rabicó, que fizeram parte do Sítio do Picapau Amarelo, são transportados para os dias atuais.
O cenário é totalmente imersivo e faz o público se sentir em uma verdadeira arena de rodeio, com direitos a clássicos do sertanejo antes de começar a apresentação.
Dividido em três blocos, cada parte do espetáculo é narrada por um personagem do universo do Sítio que passam a ganhar novas funções sociais. O tão doce Pedrinho agora personifica um conservador machista e retrógrado, a submissa Tia Nastácia agora se revolta contra os desmandos de tia Benta e se empodera como uma mulher preta e a boneca de pano Emília, que é usada e abusada por todos como se fosse um objeto, agora passa a ter voz e a tomar suas próprias decisões. A transição entre uma cena e outra é feita em 8 segundos, o mesmo tempo em que um peão deve se manter em cima do boi durante o rodeio.
Agropeça é uma boa reflexão sobre como os clássicos podem se transformar ao longo do tempo e nos faz pensar no jeito de pensar e agir do neo-conservadorismo brasileiro, que utiliza de elementos religiosos para implementar um regime retrógrado no País.