Entrevista Ana Beatriz Nogueira

Entrevista Ana Beatriz Nogueira

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A atriz carioca estreou profissionalmente no longa “Vera” (filmado em 1985 e lançado em 1987), dirigido por Sérgio de Toledo. Por este trabalho, aos 20 anos, foi premiada, entre outras láureas, com o Urso de Prata no Festival de Berlim, prêmio dado somente a três brasileiras – além dela, Marcélia Cartaxo e Fernanda Montenegro. 

Desde então contabiliza, em sua trajetória, além de diversos outros prêmios, mais de uma dezena de filmes, 17 trabalhos na televisão, 14 peças de teatro. entre elas “Uma relação pornográfica”, do iraniano Philippe Blasband e direção de Victor Garcia Peralta; os solos “Tudo que eu queria te dizer”, com textos de Martha Medeiros, com direção de Victor Garcia Peralta e “Um Pai (puzzle)”, sobre livro de Sybille Lacan e direção de Vera Holtz e Guilherme Leme Garcia; “As Três Irmãs”, de Tchekhov e direção de Bia Lessa; “Fala baixo, senão eu grito”, de Leilah Assunção e direção de Paulo de Moraes; “O Leitor por horas”, do espanhol José Sanchis Sinisterra e direção de Christiane Jatahy; “A memória da água”, da inglesa Shelagh Stephenson e direção de Felipe Hirsch, entre outras tantas produções.

Seu mais recente trabalho foi na novela das 21h, “O Sétimo Guardião”, de Aguinaldo Silva, na TV Globo. A atriz integra o elenco de “Um Lugar Ao Sol”, nova novela de Licia Manzo a ocupar o horário das 21h da TV Globo a partir de novembro. 

Suas estreias teatrais mais recentes são “Um Dia a Menos”, adaptada do conto homônimo de Clarice Lispector, com direção de Leonardo Netto; e “Relâmpago Cifrado”, ao lado de Alinne Morais. Ana Beatriz Nogueira também foi idealizadora do projeto pioneiro Teatro Já, no Teatro PetraGold, que marcou a volta das primeiras peças depois do início da pandemia, em transmissão ao vivo do palco do teatro. Ainda em 2020 criou o Teatro Sem Bolso, agora rebatizado de Teatro Com Bolso, que apresenta peças e shows em transmissões ao vivo ou pré-filmadas diretamente de sua casa. 

“Um Dia a Menos” é um dos últimos contos escritos por Clarice Lispector (1920-1977), já no ano de sua morte. O texto fala da solidão e dos possíveis muros que às vezes levantamos, sem perceber, ao nosso redor.  

Como que por um buraco de fechadura, acompanhamos a história desta mulher que é às vezes engraçada, às vezes patética, mas sempre de uma humanidade reconhecível por qualquer um. Uma mulher aparentemente normal, como muitas que vemos diariamente, conversando numa portaria, pagando uma conta num guichê de banco, comprando uma carne no supermercado.  

Margarida, personagem interpretada por Ana Beatriz Nogueira, vive só, desde que sua mãe morreu, na mesma casa onde nasceu e cresceu. A funcionária doméstica da vida inteira está de férias, não há mais ninguém por perto, e ela tem diante de si a árdua tarefa de atravessar mais um dia inteiro sozinha, dentro de casa. Ela cumpre seus rituais diários, esquenta sua comida, almoça, torce para que o telefone toque, e vai buscando o que fazer até a hora do jantar, quando finalmente anoitece e pronto, um dia a menos. Até que, esgotada pela repetição infinita, Margarida tem um rompante inesperado…

😊Vamos a entrevista!

💗Aprecie sem moderação!

Ana Beatriz Nogueira / Foto Divulgação

Eunoteatro – O drama “Um dia a menos” se desdobra numa série de reflexões e descobertas sobre vida e morte, solidão e como tudo isso pode reverberar na vida de uma pessoa mais fragilizada, como no caso da sua personagem, a “Margarida”. Ana, gostaria de saber, como foi o seu trabalho de preparação para esta personagem com tantas peculiaridades?

Ana Beatriz Nogueira – Foi um trabalho minucioso de leitura de texto com meu diretor Leonardo Neto, de compreensão do universo da Clarice. Antes de tudo, a compreensão do conto em si. Compreensão, não só no sentido de entendimento; como também, o de ver todas as possibilidades que havia em cada frase, em cada palavra de Clarice, porque é tudo muito especial. E esse trabalho não termina, ele é um trabalho em andamento, sempre. Enquanto a gente está em cartaz, a cada dia de espetáculo, porquê é um universo rico, extremamente rico esse universo de Clarice Lispector. A Margarida Flores é uma personagem que, com a epidemia, inclusive, ganhou outras dimensões. Então, é um trabalho que não termina, não tem fim. Enquanto a peça acontece esse trabalho permanece.

Eunoteatro – Interpretar um texto adaptado de um conto de Clarice Lispector, uma mulher, como nós, com suas angústias e anseios e o que tem de mais bonito: nossos devaneios, deve ser algo muito especial. Como foi o processo de escolha desse texto?

Ana Beatriz Nogueira – Sim, realmente é uma experiência fantástica, é uma oportunidade incrível interpretar esse texto. A escolha do texto se deu pelo fato de ser o conto de Clarice Lispector preferido do diretor da peça, o Leonardo Neto. A quem eu chamei para fazer um trabalho em cima de algum conto da autora, porque sou uma fã de Clarice, sou uma leitora dela. Sou muito impressionada sempre com tudo: com o brilhantismo dela, e de como ela é visionária, e como fala com a gente, como é humana e como enfim, atinge tantos lugares de soberania. Então, eu acolhi imediatamente, porque também estava entre os textos que eu mais gostava. No entanto, a ideia foi do Leonardo Neto que é o diretor do espetáculo e quem adaptou o texto.

Ana Beatriz Nogueira em “Um Dia a Menos !Foto Dalton Valerio

Eunoteatro – Na sua visão, qual o poder do teatro sobre a nossa sociedade?

Ana Beatriz Nogueira – O poder do teatro sobre nossa sociedade é imenso. Eu não sei se PODER é a palavra correta, mas há necessidade. O quanto é necessário o teatro na nossa sociedade, em todas as sociedades. Na nossa civilização, para o nosso crescimento, na nossa educação. Para o nosso entendimento de nós e do outro. Em todas as formas e manifestações de crescimento que uma pessoa possa ter, a experiência do teatro é única e soberana.

Ana Beatriz Nogueira em “Um Dia a Menos”| Foto Cristina Granato

Eunoteatro – Seja no teatro, tv ou cinema, você sempre interpreta personagens bastante densos e marcantes. Foi você que buscou por isso ao longo de sua carreira? Quando você pensa nessas personagens, em um primeiro instante, o que tem vem à cabeça?

Ana Beatriz Nogueira – Falar em sempre, é complicado, porque a televisão mostra personagens densos e marcantes, assim como muitas outras personagens nem tão densas e talvez nem tão marcantes, mas certamente, algumas bem marcantes e nada densas. Eu penso que por ser 36 anos de carreira e de teatro, seja difícil para qualquer pessoa ter visto todas as coisas que o outro fez. Eu já passei por muitos universos; de comédia, inclusive. Até na telinha, sim. Se você, por acaso, tiver oportunidade de ver uma novela chamada Rock Story você vai ver que de denso não há nada ali, denso no sentido dramático. É uma comédia, é uma novela muito leve e muito gostosa. Estou louca para repetir em algum lugar, porque foi uma novela deliciosa de fazer. Eu amo os personagens densos, amo os personagens que não são densos. Amo todos. O que mais me preocupa é ser uma boa personagem, que eu possa acrescentar alguma coisa, que eu possa traduzir o que o autor ou autora imaginou. Que eu possa fazer um trabalho em que a pessoa que escreveu, que o diretor que está ali, fique satisfeito com o resultado. E que eu fique satisfeita também, se possível.

Eunoteatro – Sem nos aprofundarmos muito, para mantermos a curiosidade do público aguçada, você acha que um pouco de arte, teria modificado na vida de Margarida?

Ana Beatriz Nogueira – Acho que sim, a arte modifica a vida de todos e de todas, inclusive de uma Margarida. Arte, né? Toda forma de arte. Tanto modifica que um momento da peça precioso, é quando ela diz que tudo melhoraria se ao ver televisão ela parecesse um quadro numa exposição. Quer dizer: ela tem essa ideia de que há um caminho por onde ir. Há um outro caminho, e esse caminho é através da arte.

Eunoteatro – O monologo conta com a direção de Leonardo Netto. Qual foi a orientação de Leonardo, durante os ensaios, que mais te surpreendeu?

Ana Beatriz Nogueira – Em relação ao Leonardo, o que mais me encantou foi a paixão dele por Clarice Lispector, pelo texto e o fato de ele ser um excelente ator. Isso faz com que o diretor Leonardo Neto tenha uma compreensão muito grande do processo dos atores. E ali, nesse texto tão delicado, tão cheio de minúcias, foi muito bom ter sido dirigida por um ator, uma experiência muito rica, para os dois. Fizemos tudo juntinhos. E ele tem um carinho, um olhar sobre esse texto muito bonito, que a mim encanta muito.

Ana Beatriz Nogueira em “Um Dia a Menos”| Foto Cristina Granato

Eunoteatro – Ana, você é uma mulher forte e independente, uma artista e uma mulher que chegou lá. Se você pudesse fazer uma ligação para a Margarida, o que diria a ela?

Ana Beatriz Nogueira – Em primeiro lugar eu agradeço o elogio, a forma como você coloca. Muito obrigada por esse carinho. O que eu diria à Margarida? Alô! Margarida. Aqui é Ana Beatriz. Posso ir aí te visitar pra gente conversar um pouquinho?

Ana, estamos imensamente felizes por tê-la como entrevistada aqui no @eunoteatro. O seu trabalho é inspirador, assim como você. Adorei te conhecer aquele dia, na estreia e, revê-la no palco. Obrigada por dispor de seu tempo para essa entrevista. Desejamos sucesso, super beijos e até a próxima!

Cíntia Duque

Siga Ana Beatriz Nogueira no Instagram: @anabeatriznogueira_oficial/

Entrevista por: Cíntia Duque @cintiaduqueoficial/ | @eunoteatro/

Assessoria de Imprensa:

JS Pontes Comunicação, Artes & Espetáculos, RJ e SP : @jspontes_comunicacao

Serviço
De 08/01/2022 a 13/02/2022
08 JAN A 13 FEV
Sábados| 20:00
Domingos| 20:00
PREÇOS
Inteira R$ 60,00
Meia R$ 30,00

FICHA TÉCNICA
Do conto homônimo de Clarice Lispector Com: Ana Beatriz Nogueira Adaptação e Direção: Leonardo Netto Assistente de Direção: Clarisse Derzié Luz Desenho de Luz: Aurélio de Simoni Figurinos: Ana Beatriz Nogueira Ambientação Cênica: Leonardo Netto e Ana Beatriz Nogueira Trilha Sonora: Leonardo Netto Programação Visual: Chico Tomaz Fotos: Cristina Granato Uma produção de Ana Beatriz Nogueira e Maria Ines Vale Realização: Trocadilhos 1.000 Prod. Art. Assessoria de Imprensa: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany  
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Edeilsa
Edeilsa
1 ano atrás

Adorei conhecer seu blog, tem muito artigos bem interessantes.