Entrevista Carolyna Aguiar

Entrevista Carolyna Aguiar

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“Um mergulho profundo no mundo interior de Lygia Clark. Como seus sonhos, suas angústias, seus desejos e sua relação consigo mesma levaram a artista a tantas obras geniais. Sem sobrenome, sem crítica, uma mulher à frente de seu tempo. Lygia, simplesmente Lygia. ”

Maria Clara Mattos, Bel Kutner e Carolyna Aguiar mergulham no universo de Lygia Clark e nos trazem LYGIA, com dramaturgia desenvolvida por Maria Clara, a partir dos diários dessa personalidade, hoje reconhecida uma mulher à frente de seu tempo.

A obra de Lygia Clark é extremamente complexa, carregada de significados subterrâneos nem sempre explícitos. Mesmo assim, sua estética é direta, quase simples. Bel Kutner e Maria Clara Mattos têm esse subtexto como meta de encenação. Sim, encenação, é como preferem tratar o espetáculo Lygia. Sem o comprometimento do palco, sem a rigidez do teatro, sem o silêncio e a pura apreciação de uma exposição. A ideia é mergulhar no universo interno desta artista, buscando usar as linhas retas, as curvas e os objetos terapêuticos criados por ela numa interação com o público. Ou seja, Lygia Clark na língua que ela buscou para suas manifestações artísticas: o corpo, a obra de arte e sua interação com o público. Mais do que um espetáculo, esta encenação é uma experiência estética, exatamente o que a artista emprestou à própria obra: vida.

Para Maria Clara, “o monólogo Lygia é um convite ao vasto mundo interior desta mulher. Seus sonhos, suas dores, suas alegrias. Não da artista plástica, não a terapeuta, mas da Lygia, pura e simplesmente. Alguém que fez dos próprios abismos o caminho de contato com o outro, alguém que acreditava que o potencial artístico humano estava no desvendamento dos próprios fantasmas”. Lygia Clark sempre buscou a interação entre o artista e o público. Da quebra da moldura à saída da parede à Estruturação do Self, o que esta mulher propôs – literalmente – foi a comunhão entre a arte e a vida. “Nossa intenção é experimentar ser essa artista que usou a própria angústia como material de pesquisa”, completa Maria Clara.

Simultaneamente à temporada de LYGIA, acontecerá a exposição homônima com caráter panorâmico, que “se mistura ao monólogo, não como forma de materializar aquilo que é narrado ou descrito por Carolyna, mas como uma dobra. Ambos se unem e se entrelaçam como forma de criar feixes e dinâmicas a partir da obra de Lygia. A potência, visceralidade e sensibilidade de Carolyna ecoam na exposição que, por sua vez, mantém ativa a memória e o legado de Lygia”, nos diz Felipe Scovino, curador da exposição.

Carolyna Aguiar | Lygia | Divulgação

Eunoteatro- Carolyna, a Lygia Clark viveu intensamente todas as crises que um ser humano pode viver e contou tudo em seus diários íntimos, como foi a experiencia do contato com esse conteúdo e como você encara a energia que emana desse material?

Carolyna Aguiar- A Lygia sempre me surpreende. Sua escrita é ato preciso e transcendente ao mesmo tempo, que sempre me revela algo novo. Como se estivesse ouvindo pela primeira vez.  A energia é transformadora, eu só embarco com o público e remamos juntos pelas suas águas.

Eunoteatro- Por que Lygia Clark? Quando surgiu a ideia de falar sobre essa grande pintora e escultura brasileira?

Carolyna Aguiar- Fui convidada para fazer uma de suas proposições na Associação O Mundo de Lygia Clark. Lá, a Alessandra Clark, sua neta, me mostrou os seus diários e se encantou com a ideia de transformá-los em uma peça. A pergunta que queria responder com o estudo dos diários era o que motivou a Lygia a sair da parede e seguir em direção ao corpo do outro.

Carolyna Aguiar | Lygia | Divulgação

Eunoteatro- Em seus diários, Lygia falava sobre coisas intimas, fala sobre sua família, libido, maternidade, enfim, assuntos femininos que na época eram considerados tabus. Como foi o processo de preparação e como tem sido para você dar vida a Lygia Clark?

Carolyna Aguiar- Lygia viveu a revolução feminista, sem nunca levantar bandeira, viveu na própria carne, de forma solitária. Não encontrou uma parceria nesse sentido. Na peça, só destacamos passagens íntimas que estão ligadas à sua produção artística de alguma maneira. Como ela nunca separou a vida da arte, a Maria Clara Mattos fez o mesmo com o texto.

Eunoteatro- Quais as principais características de Lygia Clark você levou para o palco? Tem algo de Lygia em você?

Carolyna Aguiar- O que me espanta sempre nela é a sua direção. Ela não fez concessão, arranjos. Não conseguia. Sua honestidade em relação a vida e a arte eram totais. Me identifico com a Lygia no sentido que nunca pude deixar de ouvir meu próprio coração. Tenho que o seguir senão adoeço ou enlouqueço. A Lygia dizia que sentia quando a crise estava chegando e ela nada podia fazer em relação a ela, só seguir se transformando sempre, como uma metamorfose constante.

Carolyna Aguiar | Lygia | Divulgação

Eunoteatro- Como tem sido a experiência de apresentar um monologo, contanto a história de uma mulher tão forte e emblemática?

Carolyna Aguiar- Um privilégio. Ela olha nos olhos da plateia, busca o encontro, vai na direção do outro e de si mesma. Quebra todas as paredes.

Eunoteatro- Se você pudesse deixar um recado para Lygia, o que você diria?

Carolyna Aguiar- Lygia, agora você não está só. Te ouço. Te vejo. Te escuto. E muitos outros também.

Eunoteatro- Como se deu o encontro entre você, Bel Kutner e Maria Clara Mattos? De quem foi a ideia inicial e o que o espectador pode esperar de “Lygia”?

Carolyna Aguiar- Nós somos amigas e já havíamos trabalhado juntas. Pedi a Maria Clara para adaptar o texto, que foi um trabalho hercúleo, e chegou a 70 páginas no primeiro tratamento e depois de muita mesa e ensaios, tomou forma com 20 páginas.
Bel e Macaia (como a chamamos carinhosamente) formam uma parceria incrível como diretoras. Quem nos vê trabalhando deve achar que entrou no lugar errado, que está num hospício, mas nos entendemos num caldeirão em ebulição. Somos três vulcões. Cada uma a seu modo, entramos em efervescência criativa. Quando a lava esfria, a forma é belíssima.

Carolyna, é uma felicidade enorme para nós tê-la aqui no @eunoteatro, dividindo, compartilhando e falando sobre seu trabalho. Seja muito bem-vinda e até a próxima!

Super beijos e muito obrigada!

Siga Carolyna Aguiar no Instagram: @carolynaaguiar

Entrevista por: Cíntia Duque @eunoteatro | @cintiaduqueoficial

Assessoria de Imprensa: Morente Forte http://@morenteforte

Serviço
ADQUIRA SEU INGRESSO:
https://www.sympla.com.br/produtor/lygianabolsadearte
Temporada de 07 de abril a 28 de maio
A exposição das peças originais de Lygia Clark que estará montada na galeria (área do foyer) durante a temporada do espetáculo.
A exposição estará aberta para visitação do público todos os dias a partir das 11h. Abaixo texto de Felipe Scovino – Curador
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Maria Clara Mattos (a partir dos diários de Lygia Clark)
Direção: Bel Kutner e Maria Clara Mattos
Atuação: Carolyna Aguiar
Cenografia: Estúdio Mameluca – Ale Clark e Nuno FS
Figurino: Andrea Marques
Iluminação: Belight – Samuel Betts
Coordenação de equipe técnica e operação de luz: Ana Kutner
Assistência e montagem: Leandro de Cicco e Rodrigo Sabino
Visagismo: Alessandra Grochko
Preparação Vocal: Rose Gonçalves e Sonia Dumont Exposição
Curadoria e texto: Felipe Scovino
Assessoria de Imprensa: Morente Forte
Produção: Taís Alves
Idealização: Associação Cultural Lygia Clark | 8 Tempos
Parceria: OM.art
Realização: Bolsa de Arte
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