Entrevista Flávia Garrafa

Entrevista Flávia Garrafa

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Depois do enorme sucesso feito pela comédia ‘Fale Mais Sobre Isso”, vista por mais de 25 mil pessoas, Flávia Garrafa volta aos palcos na pele da mesma personagem em “Faça Mais Sobre Isso”. O solo tem direçao de Pedro Garrafa.

Formada em Psicologia pela Universidade de São Paulo, Flávia Garrafa estudou artes cênicas no teatro escola Célia Helena e no The Lee Strasberg Theatre Institute – New York. Atriz, diretora e dramaturga, ela participou de novelas na Rede Globo, séries para diferentes canais brasileiros, quatro longas-metragens no cinema e mais de 25 peças de sucesso na capital paulista. Com mais de 25 anos de experiência no ensino de teatro para jovens, Flávia se tornou uma referência neste ramo de atividade, unindo a psicologia à arte.

O espetáculo é uma comédia reflexiva sobre o comportamento humano. Pode-se dizer que é sobre terapia, sobre relacionamentos interpessoais e até que é uma peça que aborda alguns aspectos sobre a ação que vem depois (ou deveria vir depois) do desejo de agir. “Preferimos generalizar para que o espectador entenda que o ‘fazer’, o ‘não fazer’, o ‘dizer que vai fazer’ ou até o ‘achar que está fazendo’ são parte da nossa existência. São temáticas nem sempre fáceis de se encarar, mas a arte e o humor estão aí para nos ajudar”, complementa.

Formada em Psicologia pela Universidade de São Paulo, Flávia Garrafa estudou artes cênicas no teatro escola Célia Helena e no The Lee Strasberg Theatre Institute – New York. Atriz, diretora e dramaturga, ela participou de novelas na Rede Globo, séries para diferentes canais brasileiros, quatro longas-metragens no cinema e mais de 25 peças de sucesso na capital paulista. Com mais de 25 anos de experiência no ensino de teatro para jovens, Flávia se tornou uma referência neste ramo de atividade, unindo a psicologia à arte.

Vamos à entrevista?

Flávia Garrafa em cena|Foto: Joao Neto

Eunoteatro- Após 6 anos de sucesso do espetáculo “Fale Mais Sobre Isso”, recebemos a grata notícia da estréia de mais uma comédia reflexiva escrita por você, a peça “Faça Mais Sobre Isso”. Trata-se de um texto inédito ou uma adaptação?

Flávia Garrafa- Trata -se de um texto inédito! Assim como o ”Fale Mais Sobre Isso”, Faça Mais , foi escrito por mim. Os dois textos tem a mesma protagonista mas não precisa ter assistido um para entender o outro.

Eunoteatro- Você acha que o teatro como um todo, conseguiu se reuperar do baque que sofreu durante a pandemia?

Flávia Garrafa- Não sei se vai recuperar tudo o que que era antes da pandemia, o que eu sinto é que agora as pessoas estão com muita vontade de ir ao teatro, em shows e tudo mais. Eu acho que existe um movimento de recuperação forte porque a gente vê que as pessoas querem ir. Eu vou ser otimista e acho que recuperou, a pandemia passou e as pessoas voltaram a sair com vontade de ver coisas ao vivo porque nada substitui o ao vivo.

Flávia Garrafa em cena | Foto: Joao Neto

Eunoteatro- Antônio Fagundes em entrevista, disse estar sentindo diferença no humor do público, que as pessoas estão um pouco mais sérias nesses últimos tempos. Você também têm sentido essa diferença? Se sim, isso se deve à que?

Flávia Garrafa- Eu não sinto que as pessoas estão mais sérias em relação ao humor, em relação ao que elas estão rindo. Existe um novo critério que eu acho bem saudável a respeito do que a gente vai rir, que tem coisas que antigamente as pessoas riam e faziam piadas e que ela não tem mais graça ou fazer piada com coisas politicamente incorretas teve graça durante um tempo e perdeu a graça quando a gente começou a entender que a piada por si já era um reforço ao preconceito, a você excluir pessoas. Eu acho que nesse ponto realmente mudou o humor do público. O que eu fico pensando às vezes é que o pós-pandemia, as pessoas estão com mais medo. Eu acho que fazer humor agora tem que ser algo que realmente ajude as pessoas a pensar e não só o humor pelo humor. Eu ainda acho que fazendo um humor respeitoso tem seu espaço.

Eunoteatro- No espetáculo “Faça Mais Sobre Isso”, a protagonista Laura é uma mulher apaixonada pela profissão e como a maioria de nós, por vezes, sente-se sobrecarregada.
No turbilhão da sua rotina, como você lida com as questões daquilo que “precisa fazer”, do que “pode ou não ser feito” e com o que “acha que está fazendo”? (risos)

Flávia Garrafa- (risos) Muito boa essa pergunta! No meu dia-a-dia eu já fui muito mais exigente com as coisas que eu não fiz. Eu faço listas do que eu tenho que fazer no dia-a-dia. Eu trabalho com teatro e com interpretação como atriz, mas eu tenho várias ramificações da minha carreira. Eu hoje tenho a peça de teatro, eu trabalho no audiovisual, eu administro uma empresa que dá aula de teatro e também dou aula de teatro, são várias coisas que eu tenho que administrar, fora a vida da minha casa, minha vida pessoal. A maturidade leva embora o colágeno, mas traz uma certa tolerância.  Hoje em dia eu sou muito mais tolerante com as coisas que eu não consegui fazer. É uma questão de elencar prioridades e também reconhecer quando não há nada que pode ser feito, que é uma coisa que a maturidade traz com certeza, porque você já se conhece e conhece algumas coisas do mundo. Agora é preciso tomar cuidado com essa essa noção do “nada pode ser feito” com misturar com o comodismo. É sempre bom estar alerta com “eu nada posso fazer” mesmo ou “estou com uma preguiça de fazer”.

Flavia Garrafa | Foto: Joao Neto

Eunoteatro- Flávia, além de atriz você é também formada em Psicologia pela Universidade de São Paulo e, a pergunta de agora, é para a Dra Flávia Garrafa que habita em você!
Qual a importância do exercício de nós como indivíduos únicos que somos, olharmos para dentro de nós mesmos? Para você, qual a importância de rirmos de nós mesmos?

Flávia Garrafa- Eu acho o humor a arma mais poderosa que existe para que a gente reflita sobre as situações, sejam elas externas ou internas. Saber olhar para si com um certo humor e saber rir de si mesmo, é realmente entender com leveza que a gente tem pontos a melhorar, tem pontos em que a gente é confuso, tem pontos que a gente não vai conseguir mudar e entender que essas peculiaridades que existem no nosso comportamento, no nosso funcionamento, da nossa psique, do nosso funcionamento interno emocional, tem de contraditório e de humano. Eu sempre acho que o humor é a grande arma para que a gente possa levar a vida com leveza e também para que a gente enxergue as coisas que precisa mudar.  Quando a gente ri de alguma coisa que todo mundo passa, alguma atividade, alguma coisa que você se identifica, de alguma maneira você está fazendo uma auto-análise, está olhando para você, está identificando, tá caindo uma ficha, tá fazendo uma sinapse, tá dando um inside. Tem um autor, que se chama Abrao Slavutzky, que tem um livro em que ele fala que o humor é coisa séria. Neste livro ele expande o poder curativo e revolucionário do humor. O  humor quando é feito de uma maneira inteligente e bem construída, pode revolucionar o mundo porque através dele você consegue aproximar as pessoas da sua mensagem fazendo com que elas reflitam muito mais que colocar o dedo na cara das pessoas. Eu acredito, como psicóloga, como atriz e como ser humano, no poder transformador do humor com certeza.

Eunoteatro- Na sua concepção, o humor pode ter um poder terapêutico e reflexivo? Por quê?

Flávia Garrafa- Acho que a resposta para esta pergunta está na anterior, mas vou aproveitar para complementar e para dizer sobre a minha predileção pelo humor.  Toda vez que eu vou dar aula é linda a coisa lúdica, poética e dramática, mas eu sempre acho mais eficaz a gente trabalhar no humor porque eu acho que o humor, como eu falei antes, aproxima a gente. Não é todo mundo que gosta de comédia, mas ele traz uma leveza na hora de tratar de assuntos até um pouco delicados, que talvez o próprio drama afaste as pessoas. Isto é uma opinião bem pessoal, Às vezes você traz um humor, mesmo que seja reflexivo, como no caso do “Fale mais sobre isso”.  A peça não é só engraçada, ela tem muitos momentos tocantes, mais emocionantes, mas você faz uma cama com humor, você traz as pessoas, dizendo que “estamos juntos”, rindo da gente mesmo, “”compartilho com você o seu sofrimento, “eu também passo por isso”.

Fazer isso através da leveza que o humor propõe é muito eficaz e um jeito de fazer o que eu mais acredito. Tem gente que sabe se comunicar muito bem com o drama, mas eu sinto que eu preciso aproximar as pessoas nessa identificação das mazelas da vida através do humor.

É  claro que um humor que respeita, um humor que não fere ninguém para ser engraçado. Por isso que esse humor que a gente fala, que fala de questões psicológicas, traz dramas existenciais e coloca para fora é um humor mais saudável e construtivo do que o humor que ridiculariza tipos de pessoas, grupos e opções. Este tipo de humor não é aquele que constrói. Quando você pega uma coisa que é essencial ao ser humano e que todo mundo passa por isso, você consegue fazer disso uma coisa leve, delicada e consegue colocar humor nessa confusão que a gente faz com as coisas no dia a dia. É diferente de você realmente usar um grupo, um tipo físico, uma escolha sexual para fazer disso motivo de piada. São coisas muito diferentes. Eu  super apoio o movimento nesse humor mais respeitoso. Super apoio!

Eunoteatro- Flávia, é um prazer para nós do Eunoteatro, ter você conosco!
Agradecemos por ceder um pouco de seu tempo nos contando sobre seu novo trabalho. Muito obrigada e até a próxima!

Flávia Garrafa- Muito obrigada pela oportunidade em dar esta entrevista para vocês. Espero todos no teatro!

Serviço

Temporada: 10 de junho a 29 de julho, aos sábados, às 21h30

Teatro Renaissance – Alameda Santos, 2233, Jardim Paulista

Ingressos: R$ 100 (inteira) e R$50 (meia-entrada)

Vendas online em: teatrorenaissance.com.br/flavia-garrafa-em-faca-mais-sobre-isso/

Gênero: Comédia

Classificação: 12 anos

Duração: 70 minutos

Capacidade: 440 lugares

Acessibilidade: teatro acessível para cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

Siga Flavia Garrafa nas Redes Sociais: Instagram @flaviagarrada

Entrevista por: Cíntia Duque @eunoteatro

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